Ivan Serpa | guaches 1952 | 26.08 - 13.09.24



abertura: 24 de agosto, das 15h às 19h

exposição: 26 de julho a 13 de setembro

Serpa e a música
por Hélio Márcio Dias Ferreira

Paul Klee, artista visual e profundo conhecedor da tecitura musical, nos falou sobre possíveis relações entre os universos, linha do desenho e linha melódica. As duas linguagens compartilhando ritmos, módulos e submódulos.

Nas pinturas do artista carioca – que trabalhava sempre acompanhado da audição de música clássica – percebemos a cada linha e a cada gesto, um desejo de colcheias e semicolcheias. Serpa desenhava e conseguimos perceber, nas suas obras, um som de mínimas, ou de fusas, no emaranhado das sete notas musicais. Às vezes somos surpreendidos com allegrettos que terminam em sonoro vivace; por vezes um adagio se retêm em longa pausa e segue livre num andante. Homem da harmonia precisa, o pintor não hesitava diante de um abrupto staccato. Artista da poesia melódica de um Chopin, não se intimidou em policromias de uma sinfonia, como um dia fez Rachmaninoff.

Maestros já disseram, um dia, sobre a musicalidade das obras de Serpa. Para ser artista parece nos bastar criatividade, pincel e tinta. Para Ivan, o atelier ainda era pouco; parecia tomar de empréstimo oboés e violinos e se entregar ao deleite do branco e do negro das teclas de marfim de um piano, glissando tecla por tecla; queria romper barreiras e adentrar as salas de concerto e fazer com que suas criações, sobre novos suportes, seguissem os caminhos das claves de sol e de fá; queriam seguir os inesperados traços das suas cinco linhas.

Pois não foi mesmo Kandinsky – igualmente músico – que sentiu o sabor do azul? Feliz daquele que se coloca a apreciar as obras do grande pintor carioca e, além do deleite dos olhos, percebe que as formas dançam e inundam seus ouvidos com o “Bolero”, de Ravel – música favorita de Serpa. Vale lembrar que o compositor francês não gostava dessa composição, apenas a criou para que cada instrumento tivesse um claro momento de entrada e culminando com um uníssono triunfal! Curioso: a característica de Ivan sempre foi o método, o rigor, o passo a passo, a sequência de entradas dessa ou daquela linha, dessa ou daquela cor. Explica-se seu favoritismo!