chicama | 10. 10. 13 > 09. 11. 13

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chicama | 10. 10. 13 > 09. 11. 13

A galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea abre a partir do dia 10 de Outubro de 2013, para convidados, exposição individual do artista carioca Marcus André.

Na mostra, sua primeira individual na galeria, o artista exibe 9 trabalhos inéditos da série Chicama. Definida pelo próprio como pintura em escala mural-ambiente, a série toma partido de dados arquitetônicos, componentes estruturais e experiências gráficas subjetivas, muitas vezes encontradas no local ou entorno de onde a obra é confeccionada e montada. O plano gráfico e seu caráter "muralístico", o sentido horizontalizado de cor, espaço e sugestões a estruturas edificadas imcompletas, procuram estabelecer um embate, uma atitude de construir e desconstruir simultaneamente.

 

Na criação de seus "conjuntos de planos, plataformas ou blocos de cores e massas, edificadas entre transparências e opacidades" (Afonso José Afonso, AjAx), Marcus emprega a técnica de pintura encáustica, processo pictórico utilizado desde os períodos mais remotos do emprego de materiais artísticos. Misturando pigmentos tradicionais de origem mineral à ceras de abelha, carnaúba e resina vegetal, entre outros componentes, o artista cria suas próprias tintas, que define como inigualáveis em permanência e aparência, aplicando-as a superficies como madeiras, laminados, telas de linho ou lona de algodão.

      

"Creio que um dos aspectos relevantes deste processo de trabalho seria a contaminação entre dois universos aparentemente antagônicos, de um lado um procedimento técnico artístico muito anterior ao fenômeno industrial, do outro a suposta e silenciosa pertinência da pintura no espaço virtual contemporâneo".

A exposição fica em cartaz até o dia 9 de Novembro de 2013.

SOBRE O ARTISTA

Marcus André nasceu no Rio de Janeiro em 1961. Vive e trabalha entre Rio e Búzios. Freqüentou cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 1978 e 79 e em 1984 participou da exposição 'Como Vai Você, Geração 80?'. Em 1985 cursou a Parson’s New School Of Social Research Printing, em Nova Iorque. De volta ao Brasil, recebe o prêmio no XIII Salão Nacional de Artes Plásticas e realiza individuais de pintura na Funarte Projeto Macunaíma/ Espaço Alternativo RJ, Projeto Centro Cultural São Paulo / Pavilhão da Bienal Ibirapuera e MASP SP. Representa o Brasil em Bienais no México, Cuba, Equador e Japão. Em 2007 é contemplado com bolsa da The Pollock-Krasner Foundation Inc. Grant.

AjAx - Afonso José Afonso

 O OLHAR já nos pôde servir ao envolvimento do sujeito com seu mundo circundante e factível. Neste sentido o olhar guardava certa subserviência, como um sistema de reconhecimento possível, ainda que em paralelo e transgressor, à construção da PAISAGEM  a favor do  seu  espelhamento e representação. O desvelar imagens, formas e significantes, através do desmembrar e desconstruir a NATUREZA, por meio de um campo de visão possível ou de certa correlação de similitude, espreitava o mundo para nos surpreender diante às possibilidades do real, desconstruído e imediatamente reconstruído em novas IMAGENS produzidas.

A dimensao do olhar "do artista" ou do olhar "o artista" contemporaneo se dá de outro modo. Marcado pelo predicado de uma quase privação de sentido, fixada ora na simples complacência das sensações puras trazidas pela obra, ora num olhar desautorizado, que já não mais se presta a dimensões subjetivas do sujeito relacionado com seu 'mundo visivel , a contemporaneidade afirma e requer para sua compatibilidade uma relação em que o campo de visão não mais se esgota na pura autonomia da visualidade, reclamando uma dimensão psíquica ampliada para que o OLHAR se realize.

A obra de Marcus André exige esta mesma constituição aflitiva, carente deste reenquadramento entre observador e obra observada. A impossibilidade de pousarmos olhares atribulados ou esquivos é experimentada pelo conjunto dos planos, plataformas ou blocos de cores e massas, edificadas entre transparências e opacidades da encáustica "surda",  que contundentemente da cera se faz tinta em camadas silentes. Como que seladas, a comungarem direções escorridas não de todo alienadas, razões saltam cristalizadas como em uma "coagulacao", um ultimo instante de fluidez e estado

líquido.

 

Abrasado, André faz da pintura um ato insistente por meio da mecânica de um conjunto, apontando direções ancoradas na dramaticidade das cores e em linhas de matéria espessa. A pintura presente quase vacila para condensar seu tempo.

Materializada  no  desafio  herdado  da  não  linearidade  de  um  tempo histórico presente, recorta a matéria e fornece a alusão da vertigem. Assim, infiltra sua verdade manobrada e  a abandona imediatamente, para repelir o que ainda possa persistir de banal.

Desenhando com a cor

Marco Giannotti, Outubro, 2013.

 Para um pintor,  o eterno conflito entre  desenho e  cor não é só fonte de angustia,  mas também uma maneira de se inserir e compreender a  história da arte no mundo contemporâneo. Essa famosa disputa alimentou debates ferrenhos durante o Renascimento entre a escola florentina e veneziana, bem como o debate entre aqueles que defendem Poussin,  Ingres ou até mesmo Picasso versus Rubens, Delacroix e Matisse. Como a pintura vive de ilusões (a perspectiva é um exemplo), tal querela fomentou a criação pictórica no ocidente.  Afinal de  contas, todo pintor adquire maturidade artística quando resolve de certa forma esse dilema. A maneira como cada um resolve a questão faz da escolha de uma técnica a afirmação de uma poética. 

            Marcus André  adquiriu maturidade pictórica ao escolher a têmpera e principalmente a encáustica para realizar suas pinturas. Uma das peculiaridades do seu trabalho é como ele faz uso da  cera derretida. O manejar a cera liquida com pigmento,  o artista recorta a superfície pictórica com linhas cromáticas. Ao fazer o contraponto dessas linhas com recortes que aludem a empenas arquitetônicas,  Marcus André nos faz ver uma paisagem urbana: por um instante,  o horizonte se afirma, postes de luz, oleodutos, estradas, fábricas, casas parecem se insinuar.  Mais uma vez o artista faz da ilusão um artifício, pois a paisagem pode  desvanecer a qualquer instante, e voltamos a nos deparar com a força bruta da cor, do pigmento e da cera. Mas  este jogo de alquimias sempre nos faz rememorar paisagens e mundos distantes, que entretanto, fazem parte da nossa paisagem, aqui, agora.

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