teoremas e arapucas | 27. 03. 13 > 27. 04. 13

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teoremas e arapucas | 27. 03. 13 > 27. 04. 13

A galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea abre no próximo dia 20 de março, 4ª feira, às 19h, a exposição individual do artista Julio Villani, a primeira na galeria.

 Julio, que vive entre Paris e São Paulo, apresenta na exposição “teoremas e arapucas” duas séries inéditas: A primeira série intitulada Collapsible architectures, é bidimensional, com aproximadamente 12 pinturas e 08 desenhos. Caracteriza-se pela natureza “surda”, particularmente opaca do fundo, obtida através de uma preparação à base de caulino que recobre as telas de grandes dimensões. Sobre elas, o artista traça estruturas em carvão, habitadas por delicadas transparências de tinta acrílica.

 A segunda série, Instabilis, de objetos que por vezes usam a parede como apoio, mas dela tendem a se afastar. Dois a três objetos inéditos farão parte da mostra. Nessas assemblages, o artista explora – por meio de fios e pesos, de ajustes e ajuntes – os estados de equilíbrio real ou suposto, a suspensão “contínua” do movimento, o desmoronamento possível a todo instante.

A grande constante aqui é a linha: têxtil ou traçada, tramada ou distendida por um prumo, ela atravessa pinturas e objetos, costurando o concreto ao poético, o palpável ao sensível.

Julio Villani

Teoremas e arapucas | 21 de março a 27 de abril de 2013

Arquiteturas

 

As arquiteturas de Julio Villani são esboços riscados rapidamente com carvão sobre tinta acrílica ou outra base opaca como o caolim. Os desenhos são realizados sobre a tinta ainda úmida: os traços por ela absorvidos ganham qualidade pictórica, enquanto a tinta é maculada pelas marcas do carvão. Assim, tecnicamente, elas não são exatamente pinturas, nem apenas desenhos, mas algo intermediário. Esse “entre-dois” permeia de maneira difusa a própria composição. Frequentemente, a interseção dos traços ocorre fora do quadro – como se o artista, ao forjar as linhas de ancoragem, tivesse composto uma imagem maior e decidido emoldurar, capturar e colorir no retângulo da tela apenas uma fração do todo.

Para Villani, o que importa é que as estruturas surjam de maneira espontânea. Isso indica sua postura ante o ato de desenhar: a do simples prazer de traçar uma linha. Esta liberdade é portadora de uma serialidade intrínseca. Os desenhos são constituídos por fragmentos podendo ser descritos como concretos: formas geométricas aparentemente desprovidas de todo valor figurativo, não representando nem se abstraindo da realidade.

As mesmas formas concretas aparecem em uma série de colagens sobre papel; na série das arquiteturas no entanto, enraizadas pelas linhas em carvão, materializadas pelo uso da cor, tornam-se quase representações de espaços arquiteturais. Nossa percepção confere a esses ligeiros traços em carvão sobre tinta fresca uma qualidade espacial ausente – ou pelo menos não tão aparente – nas diáfanas colagens.

Discorrendo sobre as arquiteturas, Villani cita Lygia Clark e sua teoria da linha orgânica, formada pela junção de dois planos. É dessa maneira que as linhas surgem na série, para em seguida dissipar-se, fundindo-se aos planos. Como se o artista estivesse rebobinando a herança construtivista rumo aos seus primórdios, até Joaquín Torres-García talvez, e o conflito entre os artistas geométricos que levou Theo van Desbourg a cunhar a expressão “arte concreta”. “Nada é mais real do que uma linha, uma cor, uma superfície”, afirmou, ao professar uma arte na qual os elementos pictóricos não sejam “abstraídos” do mundo, mas tenham por único significado sua própria realidade.

O que interessa Villani contudo não são as origens, mas o desdobramento das referências históricas em sua obra. Assim, uma reviravolta singular opera-se na série das arquiteturas: infletindo a arte concreta no sentido da abstração, ele nos apresenta um espaço quase-figurativo, em que o concreto da linha, da cor e da superfície defendido por van Doesburg se mistura à realidade afetiva de um Torres-García.

 Michael Asbury in Julio Villani – It’s [a ga]me, Ed Bookstorming, Paris, 2011

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