o mar que resta | 16. 04. 14 > 17. 05. 14

beatriz.jpg

o mar que resta | 16. 04. 14 > 17. 05. 14

A galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea inaugura, no dia 15 de Abril, a exposição ‘O Mar que Resta’, primeira individual de Beatriz Franco no Rio de Janeiro. A série de 10 fotografias produzidas no Mar Mediterrâneo tem como tema central a cultura do sal, o “ouro branco” cobiçado por tantos povos antigos.

 

 Em texto para a exposição, Giuliana Scime ressalta: “Podemos imaginar a surpresa de Beatriz Franco diante deste mundo tão diferente da sua experiência pregressa. Mas ela não se deixou encartar com a visão de todos aqueles elementos que compõem esse ambiente, também fascinantes e encantadores: moinhos de vento antigos, casas de colônias, pilhas de sal, garças e flamingos. Ela isolou, daquele contexto sugestivo, a essência, a mensagem final e determinante que não se encontra na observação do cenário como um todo, mas no detalhe onde o mar deposita o seu precioso dom, capturando o 'sabor' de um lugar que nenhuma imagem descritiva pode comunicar. “

 

As imagens revelam a capacidade de Beatriz de subverter a fotografia como meio de

‘reprodução da realidade’: “Apenas alguns, Beatriz Franco entre eles, sabem filtrar o mundo objetivo  através  de  um  misterioso  processo  conceitual  e  construir  imagens  que  se assemelham às ilusões. As linhas, os ritmos, as cores registram ondas sonoras que vibram suavemente em uma espécie de memória ancestral: “o mar que resta" dentro de nós.”

 

Nascida em Salvador em 1976, a fotógrafa e artista fez graduação em Psicologia, mas o contato com o pintor argentino Alejandro Kantemiroff levou ao desenvolvimento de um estudo do desenho como pesquisa e expressão do inconsciente. Beatriz é a artista mais jovem a figurar no livro ‘A História da Fotografia da Bahia 1839 ­2006’. Já expôs no MAM­BA, Goethe Institut,  Bienal  do  Recôncavo,  Centro Cultural da Caixa, Carla Sozzani (Milão), Galeria

Candido Portinari (Roma), entre outras. Em 2010 ganhou uma bolsa deviagem da Secretaria

de Cultura da Bahia e embarcou para uma residencia de 3 meses na ltalia, onde iniciou as pesquisas sobre o sal na Sicília.

o mar que resta :: beatriz franco por Giuliana Scimè

 

  Um mundo estranho e encantado, onde o sal, o "ouro branco", domina completamente: a paisagem, a vida dos homens, a fauna e a flora. Um micro- sistema de milhões de anos, com origem milhares de anos antes que os homens habitassem  o  mundo,  tão  rico  em  história.  É  incrível  como  uma  faixa  tão pequena de terra atraiu populações míticas para nós. Os fenícios, os misteriosos fenícios, navegaram o Mar Mediterrâneo e fundaram a colônia de Motya. Diodoro da Sicília escreveu: “Era localizada em uma ilha há seis estádios de distancia da Sicília e foi embelezada com muitos prédios bonitos graças à riqueza de seus habitantes”. Das salinas, os fenícios extraiam o "ouro branco", um bem muito precioso  por  séculos,  e  também  pescavam  caracóis  -  todos  conhecemos  os caracóis do mar com cauda longa - que usavam para tingir o linho de púrpura. Em  seguida,  os  normandos,  Frederico  II  da  Suábia  menciona  o  sal  nas Constituições de Memphis, as transformam em monopólio da coroa, o que não surpreende pela riqueza que produziam.

 O sal se “cultiva” entre bacias, canais, diques e mar. Uma rede de piscinas que refletem,  coloridas  por tons suaves  e mutável  e pelo vermelho  profundo  das algas escondidas. Branco, azul claro, laranja, pink, ocre, água, sal e faixas de terra criam uma paisagem de formas e cores mutáveis e suaves. Às vezes uma fina camada de cristais, como a neve, engrossa a superfície da água: é a “flor do sal”. O cheiro é de água salobra e violetas. A música é o som do vento, das ondas do mar e do canto dos pássaros. Podemos imaginar a surpresa de Beatriz Franco diante deste mundo tão diferente da sua experiência pregressa. Mas ela não se deixou encartar com a visão de todos aqueles elementos que compõem esse ambiente, também fascinantes e encantadores: moinhos de vento antigos, casas de colônias, pilhas de sal, garças e flamingos. Ela isolou, daquele contexto sugestivo, a essência, a mensagem final e determinante que não se encontra na observação do cenário como um todo, mas no detalhe onde o mar deposita o seu precioso dom, capturando o 'sabor' de um lugar que nenhuma imagem descritiva pode comunicar.

 Imagens abstratas, além da realidade objetiva, como metáforas narram nossas emoções profundas. Eles representam arquétipos de sensações e sentimentos fugazes da percepção cotidiana, embora permanecendo inevitavelmente ligadas à realidade. E assim é a fotografia: reprodução da realidade.

 Apenas alguns, Beatriz Franco entre eles, sabem filtrar o mundo objetivo através de um misterioso processo conceitual e construir imagens que se assemelham às ilusões. As linhas, os ritmos, as cores registram ondas sonoras que vibram suavemente em uma espécie de memória ancestral: “o mar que resta" dentro de nós.

obras