josé eduardo agualusa | GRAMÁTICA DO INSTANTE E DO INFINITO | 08.11 > 29.11.24



abertura: 07 de novembro de 2024
exposição: 08 a 29 de novembro de 2024

josé eduardo agualusa
curadoria: lucia bertazzo
texto: mia couto

GRAMÁTICA DO INSTANTE E DO INFINITO

José Eduardo Agualusa é reconhecido mundo afora pelas suas obras literárias. Mas a vida artística do premiado escritor angolano é bem mais ampla e entra também na fotografia. 


As seis fotos que compõe a exposição “Gramático do Instante e do Infinito”, todas em preto e branco, foram feitas durante viagem de Agualusa à Ilha de Moçambique. Os registros revelam o encantamento do autor com sua mulher, Yara, durante a gestação da segunda filha, Kianda Ainur, que nasceu em maio de 2018. Agualusa descobriu a ilha através da poesia de Rui Knopfli, Mia Couto, Nelson Saúte, Virgílio de Lemos e tantos outros. Mais tarde, ele redescobriu o local por intermédio das fotografias do mesmo Knopfli. Segundo Agualusa, as imagens são um tributo à Ilha de Moçambique e ao que ela representa: um lugar de encontro de culturas, de conciliação e de paz. 



A paixão do artista pela fotografia vem da infância, quando descobriu, em casa, uma câmera antiga, de fole. O objeto o deixou fascinado. Agualusa recuperou a câmera e começou a fotografar. Com 16 anos, fez um curso de revelação. Depois, já na faculdade de agronomia, manteve um laboratório, junto com outros estudantes, onde passava mais tempo a revelar fotografias do que nas salas de aula. 



“Gramática do Instante e do Infinito” dá nome também a um livro de poesias e fotografias, lançado em 2020. 



Antes do Rio, a exposição passou pela capital moçambicana, Maputo, e pelas cidades portuguesas de Lisboa, Guarda e Beja.


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Ler a luz, ouvir as sombras



Não vejo. Leio estas fotografias.

Leio-as como se fossem um livro,

como se contassem uma história.

O meu encantamento é o mesmo que 

me assalta perante as narrativas

literárias do Agualusa. 

Diz-se que uma imagem vale mil palavras. 

O inverso também é verdade: uma palavra 

pode dizer mais do que mil imagens. 

Neste caso, não sei se vejo, se escuto.

Não sei de quem é a autoria do olhar:

se sou eu que vejo ou se sou eu quem

é contemplado.

Entre a ilha dos escritores e o escritor

de ilhas, José Eduardo Agualusa escreveu 

histórias com luzes e sombras. 

As paisagens e os rostos são a fronte

e o verso da mesma página. 



Mia Couto