TEU OSSO É PEDRA | 23. 05. 16 > 10. 06. 16

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teu osso é pedra | 23. 05. 16 > 10. 06. 16          

O original não existe, é sempre uma simbiose, uma relação de formas, uma semelhança. A

expectativa do encaixe, do que casa com o que, parece uma busca equivocada. As coisas se

parecem mas ao mesmo tempo diferem de modo irrevogável. O cipó é osso, que ganha altura,

ganha corpo, ereto. Uma forma de fazer escultura por definição. (*processos de definição por

encontro e não por decisão como ficou consagrado por Duchamp).

 

Beatriz Carneiro encontra a carne e não a pedra. Quando olha pro mineral vê o visceral.

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 A exposição desloca a imposição da vida social, das emergências, e eleva outras importâncias.

 A pele gravada, gravura cravada no papel, é um detalhe, uma aproximação e um distanciamento.

Um detalhe sem referencial. A operação é potente ao negar esse ponto de apoio deixando o

elemento de inteligibilidade estética desguarnecido.

 

O neón é um míssel teleguiado visual, tem voracidade e ímpetos recursivos, mas aqui é mais uma

etapa do processo de escultura-gravura. A luz chega até aqui e faz do galho e do azul uma única

presença escultórica.

 

A exposição, o galho, o ferro, o concreto e a pele são dados de uma mesma existência. A matéria

é tomada em seu estado simbiótico, uma relação de formas e pertencimento por espelhamentos e

semelhança.

 

Permitir que os materiais falem por si é fundação. Associações generativas e não associações

ociosas capazes de reverberar o evento, a experiência, a libido e o intelecto.

O interno e o externo,                                                                                 o graveto e o cimento,

o vivo e o não vivo.                                                                                     O galho, o ferro, o

concreto e a pele são                                                                                  dados de uma mesma

existência.                                         TEU OSSO É PEDRA

                                                          BEATRIZ CARNEIRO

 

A erótica é fusão e                                                                                      separação.

 

A mão erótica, homem, mulher, ser, uma sexualidade recondida. Um algo que subjaz às

superfícies. Andamos com isso o tempo inteiro. Mas empurramos tais latências para o

subterrâneo.

A natureza tem um dado assustador, assim como a sexualidade. A fruição e o medo.

 

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Entender a especificidade do trivial aparece, para Beatriz Carneiro, como caminho menos

dependente de categorias tradicionais da autonomia estética.

 

A experimentação a partir da localização, a partir de um locus, é o fator que des-loca a

investigação plástica (onde reside a segurança do próprio campo da arte) e põe em risco o

trabalho, uma vez que abdica do terreno assentado mas não rejeita as capacidades instrumentais

da tradição beaux-arts. Ou seja, se insere na lógica do evento e da experiência contemporânea

mas se vale do suporte e técnicas mais enraizadas. É de fato o amálgama. É de fato o lugar de

mistura, de uma anti-ascepcia crítica, o lugar do trabalho de Beatriz Carneiro.

 

- João Paulo Quintella

 

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