Tetê Sá | quase nada | 28.02.23 > 13.03.2023



quase nada | Tetê Sá

 

28 de fevereiro > 13 de março de 2023

                                                                                           

EXPERIMENTANDO PELOS BORDOS

Paulo Sergio Duarte

 

O mundo está estranho, não está? Ou sou eu que ando vendo as coisas tortas quando elas estão direitas? Será que sempre foi assim e eu que não notava? A começar pela arte, mundo ao qual me entreguei há mais de cinquenta anos para apreciá-lo e sobretudo conhecê-lo. Aquilo sobre o qual Guy Debord nos advertia desde 1967, sobre o surgimento da sociedade do espetáculo, se efetivou. Trata-se de um triunfo, até a tentativa de um golpe de estado assume a forma do espetáculo. De repente, descubro que estou assistindo aos desfiles das escolas de samba. E o mundo da arte não escapa, está sintonizado com a grandiloquência, a monumentalidade, a espetacularização. 

Entretanto, há artistas que se distanciam desse universo dominante, Teresa Sá, ou se vocês quiserem, Tetê Sá, é uma delas. Isso não é pouco porque nos força a reeducar nosso olhar para longe dessas coisas estranhas que inundaram o mundo da arte. Comecemos pela escala: é ela que nos dá a medida da relação entre nosso corpo e o objeto de arte. Não são reduções para tornar o trabalho mais acessível ao mercado. Há poucos dias, numa feira, uma visitante quebrou, por acidente, um cachorrinho do Jeff Koons. Tratava-se de uma miniatura daquelas esculturas monumentais de Jeff Koons. Nesse caso a redução do tamanho não obedece a um apelo estético, mas uma acomodação mercadológica, trata-se de se ter um Jeff Koons numa prateleira em casa a um preço “mais acessível”: US$ 45,000.00. Até o momento, a escala das obras de Tetê Sá nos permite a apreensão num simples giro, estando eles na horizontal ou na vertical. Essas dimensões vão bem na contramão da espetacularização. 

Observe-se os materiais e sobretudo o inteligente uso que deles faz a artista. Os elementos rígidos, metálicos, servem de sustentação aos fios flexíveis. Esses “pilares” da construção dos desenhos que serão traçados pelas linhas variam e às vezes, arcaicos, nos surpreendem como o bico de pena de uma antiga caneta tinteiro. Mas as linhas também vão ser condutoras de invenções. Observem a quantas variações são submetidas como se estivessem escrevendo diferentes partituras, algumas suaves, tranquilas, outras plenas de ruídos. Existem ainda aquelas que nos deixam na dúvida como Hiato. Será uma mesma linha que atravessa o verso papel e reaparece em outros pontos? Se não olharmos o verso nunca saberemos. 

Não posso me estender muito para não os cansar, mas é impossível encerrar sem falar em Quase água. Duas levezas estão materializadas diante de nossos olhos e se ligam carinhosamente no vértice do fio azul. Por último, não se esqueçam: o papel aqui não é suporte, mas protagonista das obras. 

Rio de Janeiro, fevereiro de 2023.                             


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