certezas para dobrar | 10. 11. 16 > 03. 12. 16

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certezas para dobrar | 10. 11. 16 > 03. 12. 16            

 Pinturas desdobradas

 - Pinturas para dobrar?

- Não… Certezas.

- Certezas para dobrar!

 

Mas que empáfia ter certezas logo hoje. Como ter certezas nesse mundo móvel e instável? Como ter certezas principalmente no terreno movediço da arte contemporânea, onde a incerteza é viva e imperativa? Uma grande feira de ciências das subjetividades ou uma grande feira de mercadorias banhadas pela luz fluorescente e oscilante da especulação financeira.

 

Então de onde sai essa certeza, nos trabalhos de Elvis Almeida? As pinturas não são as certezas. Também não são certezas os motivos nem as formas de fazê-las. A única certeza que se dá antes de começar uma pintura é a urgência de fazer aquela pintura, naquele instante. Um susto, um assombro, um pedaço de madeira achado no lixo. E a única certeza depois de terminada a pintura é que se deve partir pra próxima. Não pra próxima certeza, mas pra próxima pintura. São as pinturas que existem para serem dobradas. E só assim dobra-se as certezas, impregnando-as de quinas, cantos, riscos, sombras e relevos.

 

A geometria é uma certeza. Então Elvis a repete, copia, replica. Uma linha e outra linha e outra e outra e outra até que a certeza da linha vire o fundo trêmulo de uma não-paisagem. Um círculo e outro círculo e outro e outro e outro até que só existam a vertigem e o eco. Um ponto e muitos outros pontos, riscos que viram enxame. Os asteriscos que formam explosões, os carimbos que se seguem um após o outro até perderem o fôlego. "Se você repete a mesma frase, a segunda vez já não será a mesma frase". E a partir das dobras que dividem e multiplicam os retângulos, que desconcertam a geometria, desdobram-se as pinturas.

 

Contudo, esses elementos que começam sendo tosca escrita e acabam dando em ritmados poemas visuais sem palavras não trariam tanto desconcerto se não fossem as cores brigando entre si, uma querendo existir mais que a outra. Aquela desarmonia infantil dos "borrões de pigmentos grosseiramente sobrepostos" quando jogávamos tintas sobre o A4 branco, dobrávamos a folha ao meio e, ao desdobrá-la, éramos aterrorizados por uma forma amebóide ou algo próximo a uma borboleta improvável. Era o informe espelhado que gerava um corpo ao mesmo tempo monstruoso e simétrico. Quando a simetria, a repetição e o espelhamento ao mesmo tempo que se impõem se mostram impossíveis, é aí que acontece o desconcerto.

 

Mas não há nada de metafísico aí. Aquela mancha que queria ser samambaia é só três tons de verde. Está tudo sobre madeira (um mundo sobre madeira). Ou lona. Está o papel seda rosa achado e rasgado. Está a canetinha de um preto ralo. Está o carimbo falhado. Está tudo falhando, rachando e entortando e continua tudo tão vivo e ao mesmo tempo tão simples. Tão direto. E é aí que se desdobra o desconcerto.

 

                                                                                                   Luisa Marques

 

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