20 anos | 16. 12. 14 > 31. 01. 15
20 anos | 16. 12. 14 > 31. 01. 15
Somos contemporâneos de uma era de muitas explicações e supostos engajamentos no meio de arte. Obras se apoiam em manuais e não podem fugir de conceitos explícitos; curadores e críticos dificilmente contornam o campo da política - a macropolítica, das praças e das questões sociais. Sobra discurso, falta mistério, e os encontros cara a cara com o objeto artístico tem sido mais do que mediados.
Talvez por isso o convite para uma curadoria no aniversário de 20 anos da Galeria Mercedes Viegas tenha soado como um presente. Desde seus tempos como museóloga da Galeria Banerj, em que atuou ao lado de Frederico Morais, Mercedes estabelece com a arte contemporânea brasileira uma relação de intimidade, respeito e (re)conhecimento.
Pensei então que seria mais honesto festejar estas duas décadas perseguindo um caminho simples e direto. Não inventei um "tema", apenas para cumprir a tabela e o vício de algum; não desenharei neste texto justificativas para a inclusão de cada nome e cada obra. Os artistas reunidos em "20" não estiveram a serviço de uma ideia - algo como "O quadrado amarelo na arte contemporânea" ou "Territorialidades desconexas". Uma estratégia dessa ordem pode ser pertinente e eventualmente necessária, mas jamais será obrigatória.
Aqui e agora, meu olho tentou estar a serviço das obras, existentes no acervo ou propostas especialmente para a mostra. Parti delas para construir conversas visuais, quem sabe vizinhanças surpreendentes. Também procurei me embolar em uma teia afetiva - começada muito antes de "20" por uma Mercedes mestre-tecelã nessa seara. O destaque dado a áreas pouco ou nunca usadas em exposições anteriores - jardim, escadas, átrio e um escritório do segundo piso - reforçou a arquitetura da galeria. Lembrar da casa e se afastar do cubo foi uma tentativa de ampliar a sensação de acolhimento que toda festa deveria ter. De certo modo, toda arte também.
Daniela Name